O que é a Moda – O seu significado através de Georg Simmel

simmel

A moda, e o seu significado.

Desde muito cedo, que a moda sempre me fascinou. Adorava ir ao armário da minha mãe, onde passava horas a olhar para as roupas, as cores, os padrões e brilhos. Imaginava-me, quando crescesse, puder escolher e vestir tantas peças quanto desejasse, para todos os tipos de ocasião. Perdia-me nesses pensamentos.

Sempre olhei para a roupa ou para a moda, muito para além da sua funcionalidade ou de proteção do corpo. A moda tem o poder transformação, de nos transportar para onde quisermos. Em certas ocasiões, confesso que questiono algumas decisões da minha vida, mas com o passar do tempo, percebo que, a escolha de ter estudado Design de Moda. Talvez tenha sido tomada para conseguir entender um pouco mais sobre o significado do que está por trás das roupas e, consequentemente, das decisões que tomamos todos os dias, com o simples fato de decidirmos o que vestir.

Seguindo esta abordagem, sempre procurei obter conhecimento através de livros e artigos que falem sobre moda, de forma direta ou indireta. “Somos a única criatura que muda intencionalmente o seu aspeto. O leopardo não pode mudar as suas  manchas e o camaleão apesar de poder mudar de cor, não se pergunta todas as manhãs: “ De que cor quero ser hoje?”  Ted Polhemus, é um antropólogo, escritor, fotografo.

Esta frase leva à reflexão sobre o significado do como e do porquê de nos vestirmos, mesmo fora do âmbito da utilidade e, quais as razões e motivações que nos levam a tomar certas decisões, onde o mais curioso será percebermos como certas motivações continuam tão atuais.

O sociologo Georg Simmel (1858-1918)

Vou partilhar fazer referência à obra do sociólogo alemão Georg Simmel, que tanto contribuiu e questionou, tendo sido um visionário para a sua época. Internation Quarterly de 1904, continua tão atual.

Selecionando uma de muitas das suas contribuições, e seguindo a premissa de que todos somos diferentes, e temos atitudes e práticas que nos diferenciam, a moda é mais um meio de expressão, de identificação, e de gosto. Podemos até afirmar que, se não existisse moda, possivelmente vestiríamos todos o mesmo. Nesta afirmação estão presentes, pelo menos, duas tendências: a busca pela generalização e o desejo da diferenciação.

Se, por um lado, existe a tendência forte de generalização (para o conformismo, por exemplo), por outro, existe a necessidade de nos distinguirmos de outras pessoas (para a dissidência ou excentricidade), baseado, no que se poderá chamar, de competição. Ou seja, podemos imitar aquilo que admiramos, ou fazer-nos distinguir daquilo que desprezamos ou que nos é indiferente. Mas, é a imitação que está na raiz da teoria de Simmel, que se encontra presente nestes dois polos opostos, mas não prevalece em nenhum por inteiro.

A moda é sim, um efeito de equilíbrio, está presente na generalização de obedecer à moda e também presente na distinção ao recusar a moda. Então, existe o chamado efeito anti-moda (que será discutido num novo artigo), e este último resulta na criação de uma “nova moda”. Ambos são alvo da imitação.

Se existe um impulso de imitação do próximo, existe um desejo de preservar, de unificar ou de igualar. Assim, é-nos remitida a ideia de que as pessoas tendem a imitar outras, pelo que, de alguma forma, lhe é sentido, que, por exemplo, estas sejam “superiores” a estas. Um “principio de simmelian” “…Fashion is a product if class distinction”. A moda é de certa forma estratificada, ou seja, existem seres superiores e seres inferiores, ou simplesmente onde alguns são dignos de serem imitados.

A relação com o presente

É curioso como este tema permanece tão atual. Podemos encontrar, no marketing de influência, os chamados criadores de conteúdo, e serão estes dignos de serem imitados pelas massas? Ou, serão apenas portadores de desejo de diferenciação?

Vamos imaginar o seguinte exemplo:

Uma criadora de conteúdo (sabemos que, à priori, será paga pela marca, ou não, mas não iremos tocar neste assunto, não neste artigo especifico), que pública uma peça de vestuário de uma marca de luxo (ex. Dior). Terá como resultado, o desejo de outras pessoas (followers) de quererem adquirir esta peça ou modelo. Este desejo fará com que outras marcas do sector de moda, como por exemplo, as marcas de fast fashion criem um modelo similar, para atender a esta necessidade e desejo, a um custo muito inferior. Mas, por sua vez, com a disseminação deste modelo, o que acontecerá, é que esta criadora de conteúdo ou pessoas de uma classe mais elitista terão novamente a necessidade de encontrar um novo modelo que as diferencie. Este é o ciclo que vicioso do que é a moda e as suas tendências aos olhos de Simmel.

Agora, questões que se surgem a este exemplo:

Porque sentimos necessidade de imitar as outras pessoas? Será por inveja, por admiração, ou porque são economicamente superiores? Será que a moda implica uma inveja num contexto social ou um desprezo? Simmel responde: “Esta usurpação pessoal tranquila da propriedade invejada contém uma espécie de antídoto, que ocasionalmente neutraliza os efeitos maléficos desse sentimento de inveja.”

Assim, poderemos concluir que um individuo só inveja outra quando existe também admiração, ou a declare como um modelo ideal de comportamento ou realização social. A moda, pode ser, assim, um remédio para o sentimento de inveja quando, voluntariamente, se imita alguém, e por conseguinte, se tem admiração por essa pessoa. A moda dilui a inveja entre os indivíduos, diluindo-a com inclusão social, quer seja no pólo da generalização, quer no pólo da diferenciação.

E qual é o papel que cada um de nós quer representar na sociedade? Na realidade, todos nós em alguma ocasião certamente já nos inserimos nos dois pólos. As redes sociais vincam cada vez mais estas duas distinções. Curiosamente, as gerações mais novas, não se deixam influenciar da mesma forma, porque querem ser eles os que influenciam.

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